terça-feira, 27 de março de 2018

Na luta contra o comunismo, os militares não são confiáveis.

 (*)Láurence Raulino








 

                                           

Robert McNamara, ex-Secretario de Defesa dos Estados Unidos durante os governos Kennedy e Johnson dizia não confiar muito no compromisso dos militares sulamericanos na luta contra o comunismo, pois o mesmo era pouco consistente, meramente ideológico e poderia virar...

 Quem apoiou o Chaves e quem apoia o Maduro? Os militares venezuelanos, claro, que sustentam os bolivarianos, lá na Venezuela e em outros países como Bolívia e Equador. 

No Peru, sob a liderança de Alvarado, os militares sustentaram um dos mais terríveis governos de esquerda do continente, nos anos sessenta, com estatização de setores vitais da economia. O desastre foi tão grande que tiveram que devolver o poder aos civis.

Por quê devemos então confiar nos militares brasileiros no que concerne à luta contra o comunismo? Pelo que fizeram aqui durante o regime militar de 1964 a 1985?

Naquele tempo vivíamos o período da guerra fria, e o mundo estava dividido em dois pólos, um liderado pelos Estados Unidos, o pólo democrático e capitalista, e o outro polo, de esquerda, liderado pela União Soviética, o pólo comunista.

Hoje mudou tudo, e os militares brasileiros que tradicionalmente não gostam muito de uma imprensa livre, de um Poder Judiciário e de um Ministério Público independentes também podem ter mudado. Não podemos descuidar disso, claro, sem paranóia. Mas é uma questão objetiva.

Deve ser destacado que muito do compromisso das Forças Armadas com a democracia e o sistema capitalista deveu-se ao período da "guerra fria", quando o Brasil prosseguiu sua aliança com o Ocidente desde o pós-guerra, e para tanto aqui formulou-se nos círculos militares, com a criação da ESG - Escola Superior de Guerra, instituída pela Lei nº 785/49,a doutrina da segurança nacional, que impunha a luta incessante contra a expansão do comunismo, da URSS para o resto do mundo.

Com o fim da "guerra fria", todos os fundamentos da doutrina da segurança nacional, na prática, desmoronaram, de modo que hoje, nas Forças Armadas do nosso país, não há mais nada daquilo que um dia foi, de forma consistente e operosa, a dinâmica do pensamento militar pró-ocidente, que vinculava a nossa soberania ao sistema capitalista e à ordem democrática, com os seus desdobramentos operacionais.
 
Na nossa história nós temos vários militares que mudaram de lado, como Luís Carlos Prestes, Carlos Lamarca e tantos outros aí que foram presos e expulsos de suas forças.

Então aqueles que estão pedindo intervenção militar para nos "salvar dos bolivarianos", fiquem espertos. Eles podem fazer o jogo do PT amanhã, e muitos já fizeram no passado recente, inclusive no próprio governo do PT; tanto no governo Lula, quanto no governo Dilma..

Portanto, senhores inocentes que estão pedindo intervenção militar, pensem bem: não é melhor ficar mesmo com a democracia, apesar de toda essa bagunça aí? Pelo menos nós temos uma imprensa livre, liberdade de organização, etc, tudo que um estado democrático de direito assegura.

Pensem bem!, desesperados e apressados que pedem intervenção militar para nos salvar do PT.

(*) - advogado, blogueiro e escritor