segunda-feira, 23 de abril de 2018

A "nova direita" e Cazuza: uma paródia perigosa







                                                                                       Láurence Raulino(*)

A nova direita brasileira, em sua face mais visível, a do jogo bruto, que não tem o refinamento intelectual da direita espanhola ao tempo de Adolfo Suarez - o articulador do "Pacto de Moncloa" -, por exemplo, nem ao menos a "esperteza" da velha UDN, sob o liderança de Carlos Lacerda, o conspirador mais reacionário e talentoso da nossa história política no século XX, nos faz lembrar um verso do Cazuza em sua canção "Burguesia", seguinte:

"São caboclos querendo ser ingleses"(bis)

Liderada por algumas expressões de setores civis e militares, a nova direita brasileira tem em Jair Bolsonaro o seu destaque, e é com ele que a sua área mais bruta e reacionária pretende disputar as eleições presidenciais de outubro próximo, embora em sua retaguarda haja alguém como o general RR Hamilton Mourão, o fuher caboclo, mas esse virou cabo eleitoral do carcamano carioca.

Paralelamente àquela área mais aguerrida da nossa nova direita, há também projetos menos visíveis e articulados, como as candidaturas de Flávio Rocha, da Riachuelo, e do Amoedo, do Novo. Ambos, porém, não têm feito tanto barulho quanto aquele do ex-capitão, agora um velho deputado federal ao final do sétimo mandato, mas sem nada de relevante para apresentar da sua vida parlamentar.

Tirando o foco das lideranças da nova direita e pondo os olhos na militância, podemos visualizar na mesma - principalmente nessa área mais aguerrida que pretende disputar as eleições com Jair Bolsonaro -, jovens e velhos cheios de ódio e embrutecidos, que não ficam nada a dever àquela militância petista movida pelo descaramento e pela mais estúpida violência, seja nas ruas ou nas redes sociais.

Essa militância direitista mais aguerrida, digamos assim mesmo, nos faz lembrar os livros de história sobre a juventude hitlerista, mas também o nosso facismo caboclo dos anos trinta, expressado no integralismo de Plínio Salgado, que além de violento era também ridículo(copiava os nazistas até na saudação do "heil Hitler", com o bizarro "Anauê") como é hoje a atual militância, que compara o carcamano carioca com o folclórico presidente "americano", Donald Trump.

Espelhando-se no nazi-facismo europeu dos anos trinta, como pode ser vista por qualquer um que se depare com ela, essa militância direitista estúpida e cheia de ódio poderia lembrar-nos dos versos daquela canção do Cazuza, que sugere muita revolta do autor, mas com inequivoco acerto, aqui numa paródia, diria: "São caboclos querendo ser nazistas"(bis)

Isso valeria também para brasileiros lá do sul que são a favor de nova intervenção militar(as "viúvas" sulinas da ditadura) e os separatistas, ainda que apenas culturalmente caboclos, mas ridículos, de qualquer modo.

A questão central dessa paródia, na verdade, é a fantasia política cruel de se querer vestir da farsa de algo absolutamente abominável como o nazismo, que é o paroxismo do facismo com a questão étnica, tão cruel e covarde que envergonha a condição humana.

A grande decepção da sociedade civil com a experiência petista levou ao desespero, que resultou no ódio hegemônico às minorias, e isso, embora aparentemente transitório é uma ameaça concreta à ordem democrática, que parece ser, em outras palavras, o que a nova direita busca, com toda essa situação.

A consciência democrática tem que ser despertada para reagir a tudo isso, e assim não corrermos o risco de trocarmos a ameaça comunista vinda via "foro de São Paulo" pela ameaça comunista vinda via ditadura militar, subestimada e presumida equivocada, mas que é uma potencialidade permanente, como já nos advertia Robert McNamara nos anos 1960, em plena guerra fria.

(*) - advogado, blogueiro e autor de ensaios políticos e de literatura ficcional