terça-feira, 11 de setembro de 2012

O 11 de setembro, 11 anos depois...







Láurence Raulino(*)

Os anos 1990, após a "queda do Muro de Berlin" e ao fim do SOREX - Socialismo Realmente Existente, então, se constituiram na década mais cosmopolista e de promessa de um mundo com menos guerras, como poucas vezes se vira na história da humanidade. A "globalização", ainda muito desigual e com todas as suas contradições, era a palavra de ordem e o horizonte de um mundo cada vez mais sem fronteiras, pois firmava-se como um novo tempo, em que pessoas de todas as origens e nacionalidades começavam a viajar e a trocar informações, física e virtualmente, como nunca antes havia se dado na história, que um deslumbrado, ou mal intencionado, vaticinara haver chegado ao fim.

Naquela década auspiciosa, até a grave e delicada questão do Oriente Médio, envolvendo principalmente palestinos e israelenses, prometera uma solução satisfatória para ambas as partes, com a intermediação do então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, que por muito pouco não logrou êxito em sua determinação de promover a paz entre dois povos próximos, em infindáveis aspectos, e quase irmãos, por força desses mesmos aspectos - históricos; culturais; destinatários...

Mas Clinton, um estadista que se envolvera também em questões menores e controvertidas, inclusive numa relação escandalosa e destrutiva com uma estagiária da Casa Branca - Monica Lewinsky -, chegou ao fim de seu segundo mandato na Presidencia dos Estados Unidos e não fez o sucessor, eis que o seu candidato - o democrata Al Gore - fora derrotado por uma conspiração da direita estadosunidense, hidrófoba e belicista, que queria por que queria por em seu lugar George W. Bush, o filho do ex-presidente Bush, graduado em duas das melhores universidades do país - Yale e Harvard -, mas conhecido por um passado controvertido, inclusive por ter sido contumaz usuário de drogas e alcóol - fora alcoolotra, mesmo - na juventude, e, o pior de tudo, ainda comprometido com as indústrias do petróleo e da guerra.

Depois de oito meses de Bush iniciar o seu primeiro mandato como presidente, os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 ocorreram. Em resposta, Bush anunciou uma guerra global contra o terrorismo, quando ordenou a invasão ao Afeganistão, no mesmo ano, e, em 2003, a invasão ao Iraque. Além das questões de segurança nacional, Bush promoveu políticas de reforma na economia, saúde, educação, e segurança social. Ele assinou leis de corte geral de impostos, o No Child Left Behind Act, e o Medicare, este para idosos. Sua posse fora seguida por um debate nacional sobre a imigração e a Segurança Nacional.

Na condução da política internacional de seu país, o Presidente Bush promoveu uma vigorosa e radical revisão na busca de entendimento entre israelenses e palestinos, e, em especial, na gestão diplomática do governo anterior, orientada no sentido daquela busca da paz, em especial no Oriente Médio, dali acirrando os ânimos entre "árabes" e israelenses, naturalmente, o que provavelmente teria concorrido para os atentados de 11 de Setembro de 2001, levados a cabo por facções extremistas do islamismo, sob a liderança do radical Osama Bin Laden.

Imediatamente após os atentados de 11 de Setembro, observou-se uma efetiva mudança de posições na política externa dos Estados Unidos, que passou a ser dominada por uma visão unilaterlaista e paranóica, sem precedentes num mundo que, na década anterior, vislumbrara uma globalização sem fronteiras e sem hegemonias políticas, militares... No prosseguimento dos debates e discussões desfechados no seio de um então recém-criado Gabinete de Guerra, durante um fim de semana, na sequencia imediata ao 11 de Setembro, a política externa (e também a interna, embora, esta, em menor grau) de Bush foi definida, acima de tudo, pela Guerra contra o Terrorismo. Essa posição foi descrita em primeira mão numa "Comunicação a uma Sessão Conjunta do Congresso e do Povo Americano" especial no dia 20 de setembro de 2001, na qual Bush anunciou que os Estados Unidos estavam em guerra contra o terrorismo.

Sabemos bem o que seguiu àquilo, quando o mundo deixara de viver e sonhar com as perspectivas de um multilateralismo efetivo e cosmopolita, apesar de todos os seus paradoxos e contradições, para passar ao domínio da paranóia do oportuníssimo terrorismo internacional, com o retorno da guerra difusa e incessante entre o Ocidente e o "Mundo Islâmico", quase numa reprodução das Cruzadas, em pleno 3º milênio, ao gosto pleno da direita republicana e dos seus falcões. Mesmo com tudo isso, esse ambiente tornou possível o surgimento de Barack Hussein Obama, o democrata que viria ser o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos.

Obama caçou e matou Bin Laden, coisa que o Bush muito tentou mas não consegiu, mesmo havendo ocupado militarmente o Afeganistão e o Iraque, neste havendo enforcado Saddam Hussein. Nem assim os Estados Unidos - e o mundo, por tabela - vivem em paz, pois a crise econômica que se abateu sobre o páis e o mundo, em 2008, ainda faz estragos, junto com a herança maldita - essa sim, efetivamente maldita, ao contrário da retórica, daqui - da guerra contra o terror, pensada e iniciada por seu antecessor, há 11 anos.

(*) - advogado, articulista e escritor.

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