segunda-feira, 23 de abril de 2012

Republicação: "Žižek e a sua "Caixa de Pandora"

Láurence Raulino(*) Slavoj Žižek, o inquieto e verborrágio filósofo esloveno que trata "de tudo" em seu discurso de pensador marxista reciclado, na insistente tentativa de qualificar-se na pregação da utopia socialista, desde o início do século vem apresentando-se como mais uma esperança no renovado esforço de permanência do desesperado exercício da crítica - de esquerda, óbvio - ao capitalismo, quando este, no iniciante século XXI, já passa por uma "segunda crise", e em curto espaço de tempo. Em sua cruzada verbal contra o capitalismo e os seus males, que lhe oportunizam o emprego de todas as mídias disponíveis a tanto, Žižek, como a Pandora da mitologia grega, diuturnamente abre a "caixa proibida" de males, sediados na sociedade ocidental e no sistema economico em que a mesma baseia-se, para dali liberar tudo de "falso e nefasto" que há na origem desta nossa forma de viver a tragédia da existencia, e tomem-se conceitos, idéias e pensamentos..., alguns bem criativos, instigantes, inteligentes..., por fim, embora bastantes abstratos, além de quase sempre extravagantes e inapropriados ao enfrentamento dos terríveis desafios da dura realidade... Do grande Heidegger, por exemplo,Žižek "toma emprestado" o termo "auseinandersetzung", que segundo a acessível e popular Wikipédia, transmitiria "...a necessidade europeia de se repensar, uma confrontação interpretativa, quer em relação aos outros quer em relação ao passado da própria Europa em todas as suas dimensões, das suas raízes antigas e judaico-cristãs à ideia recentemente defunta de Estado-providência, sobretudo quando actualmente a Europa se encontra balizada pela tecnologia desenfreada da China, por um lado, e pela globalização e economia americana, por outro." Ainda em sua crítica ao capitalismo, Žižek faz considerações ao controvertido multiculturalismo liberal e tolerante do sistema político que deriva do primeiro, que ele diz caracterizado, essencialmente, por uma política sem política, aquilo que também pode ser designado por uma arte da administração elaborada por especialistas, ou ainda a experiência do "outro" privado da sua alteridade. Dali o filósofo prossegue sua crítica construindo um abstracionismo que o faz afastar-se da realidade que o marxismo sempre pretendeu apreender e que leva epígonos do criador dos materialismos históricos e dialético, como ele, a inquietar-se e a buscar saídas pelas portas fáceis da psicologia, inclusive com recurso à psicanálise lacaniana, e Lacan, com efeito, parece ser também um "guia" do esloveno, ou quem sabe até um guru desse genial pensador do desespero. Na "Caixa de Pandora" do Žižek, os males capitalistas são irremediáveis, além de intermináveis.., e o filósofo, no entanto, até parece não ter "se dado conta" de que o sistema apenas traduz o trágico que é a própria vida -não, não sou cínico, mas às vezes "por demais" realista... -, que jamais fora favorecida pelas alternativas fundadas na pura e simples extinção do livre-mercado; da iniciativa privada e dos "direitos burgueses", entre outros "dogmas capitalistas", simultaneamente. Ao contrário, a substituição do rol de abomináveis - como dizem alhures -"dogmas capitalistas" por aqueles elencados como "dogmas marxistas", que começam pela busca do fim da "mais-valia" e enveredam pela estatização total dos meios de produção, até à edificação da "ditadura do proletariado", apenas tornaram a existência mais trágica que a natureza e a própria condição humana confirmam na nossa experiência diária, já que começa por roubar a "mui burguesa" liberdade do indíviduo - cuja efetividade é negada pelo "nosso pensador" -, para impor a equivocada miríade de direito à igualdade, tão inviável e danosa às aspirações humanas que, em seguida à queda do "Muro de Berlin", o SOREX - Socialismo Realmente Existente, então, não se sustentou, com toda a força(?) política e militar que dispunha, sobre a qual realizavam o "realismo socialista", onde não havia lugar para a exposição das inescapáveis contradições do mundo, que as artes bem exprimem e expressam, desde tempos imemoriais. O que parece faltar ao Žižek, em seu determinismo marxista voltado à edificação de uma crítica idealista e regressiva às grandes, evidentes e inequívocas contradições do capitalismo é clareza para enxergar que a sua construção não leva a lugar algum, como já demonstrou o fracasso recente da experiência socialista, constatado tardiamente pela China e por todos os paiíses da "Cortina de Ferro", depois de anos e anos..., de sacrifícios de gerações e milhões de mortos, realidade que também existia e permanece no "mundo burguês", mas este ao menos conta com a possibilidade de exercício da questionada liberdade, esta que aos trancos e barrancos permite que a arte floresça e a ciência triunfe, contra todos os obscurantismos que a humanidade gosta de cultivar, como o pensamento único das ditaduras, aquelas que matam a própria dialética, a que fundou o marxismo reciclado pelo filósofo esloveno. (*) - advogado, articulista e escritor.

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