domingo, 4 de dezembro de 2011

Com a acelerada exclusão do trabalho humano da economia mundial, para que socialismo aqui?




Láurence Raulino(*)

Há tempos, o mundo desenvolvido e a sua periferia operam e ao mesmo tempo debatem o processo de automação industrial, mas não apenas ali, naquele que ainda é, sob vários aspectos, o núcleo mais dinâmico e fundamental do setor secundário - onde se encontram, ilustrativamente, todas as atividades econômicas de transformação em escala, além daquelas que envolvem mineração e construção civil... - da economia.

Sim, a substituição do homem pela máquina, que se manifesta cada vez mais como fenômeno irreversível nos processos produtivos das economias brasileira e mundial, não apenas na indústria, destacadamente, mas igualmente em outras áreas daquilo que a ciência econômica põe, sem qualquer caráter hierárquico, em segundo lugar no campo da geração da riqueza, não é desafio social recente, conforme registra a história - em especial, nos seus últimos 200 anos -, que o identifica - o fenômeno, óbvio - e o confunde com a própria origem da revolução industrial. E desde o pós-guerra, pelo menos, a automação vem tomando ritmo veloz e constante, de modo que, científica, tecnológica e economicamente pensando, já se pode vislumbrar a definitiva exclusão do trabalho humano da economia, não em sua totalidade, claro, embora em grande parte dela, o que vem a ser algo previsto e temido.

Os desafios para os governos e as sociedades, quanto à ocupação da mão-de-obra disponível - atualmente empregada, ou "em vias de..." -, portanto, que já não estão pequenos, daqui para a frente serão cada vez maiores, o que haverá de produzir, inclusive, renovados e permanentes fatores de crise, para os trabalhadores e a economia capitalista - em verdade, quase a única que restou -, de modo geral.

Dali, muitos dos que se opõem àquela - à economia capitalista, claro - virem torcendo para que a mesma erre cada vez mais..., ao tempo em que também "trabalham", aqui dentro e lá fora, por sua derrocada, na expectativa de que, qualquer dia desses um impasse torne possível a volta do socialismo - na forma e ao modo do SOREX(Socialismo Realmente Existente, até 1991), que caiu logo na sequência da "queda do Muro de Berlin", ou por meio de suas alternativas/variantes, românticas ou tão inviáveis quanto o próprio SOREX - onde este fracassou e em lugares que nunca o experientaram, como o Brasil e o restante das Américas, exceto Cuba, esta que já teria escapado dele, como praticamente fez a China, se não fossem os equívocos - para se dizer o mínimo, e sendo elegante - da oligarquia partidária que há 50 anos a submete e a desgoverna.

Então, se o capitalismo, como é o mais provável, vencer mais esta crise mundial e voltar a crescer, em seu núcleo dinâmico - o tradicional, agora agregando, ou sendo substituído por novos atores, que caminham para mudar a sua "velha face" -, a acelerada exclusão do trabalho humano da economia - em processos cada vez mais amplos e eficazes, em especial no campo industrial, mas igualmente nos setores primário e terciário da última -, pouco restará ao homem para inserir-se e atuar, ou apenas colaborar, na área da produção, com o milenar fator trabalho, e dali não haveria mais nada para se reclamar contra a derrotada tese ricardiana/marxista da "mais-valia", naquilo que dela sobrou, pois as máquinas, certamente, estarão presentes em todos os setores e áreas da economia. Nesta, no futuro previsto e temido, pelos próximos 100 anos talvez restará ao homem atuar e/ou colaborar na geração de conhecimento - pesquisa; educação..., na produção artística e nos esportes.

Bastaria o quadro de uma realidade futura e bem possível, como o fixado no parágrafo imediatamente acima, para mais uma vez ser afastada a perspectiva imaginária da volta do socialismo - ou do comunismo, como se queira, com os seus dogmas e inflexibilidades -, em sua forma marxista, imposta pela fracassada ditadura do proletariado e da estatização total dos meios de produção, com toda a tragédia que dali resulta - a começar pela privação/falta de liberdade; fome; perseguições; paredões; gulags....

Porém, outras razões além daquela plausibilidade afastam a volta do terror socialista, sendo de se destacar das mesmas a própria constatação de que, na pequenina Cuba, após mais 50 anos do fracasso humano da experiência comunista, ali, setores consideráveis da sociedade cubana ainda aspirem por um regime onde prevaleçam as ditas "liberdades burguesas", as eleições livres de seus governantes - apesar de todas as contradições dos exemplos da sua eclética vizinhança, e fora dela -, o respeito efetivo aos direitos humanos..., etc., que muitas vezes podem faltar nos sistemas de economia de mercado, embora nesta, via de regra exista muito menos inflexibilidade para correções de rumo, digamos assim, pois o que quase sempre prevalece é o pluralismo na vida social e política, diversamente do que nos mostram as experiências de uma sociedade e um estado geridos pelo pensamento único, esse que foi inviabilizado bem antes da "Queda do Muro de Berlin", como anteviu Mikhail Gorbachev, que tentou "escorá-lo" com a sua derrotada tese do socialismo desenvolvido. Mas as esquerdas marxistas, no Brasil e mundo afora não desistem..., e insistem, inutilmente.

Assim, desse contexto todo, inescapavelmente vem a pergunta: para que socialismo aqui?

(*) - advogado, escritor e articulista.

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