domingo, 31 de julho de 2011

O multiculturalismo e sua farsa, no registro de Alon Feuerwerker


Em sua coluna de hoje no jornal Correio Braziliense, o jornalista Alon Feuerwerker traz interessante e oportuno texto sob o título "Farsa intelectual", para debate do público - em especial dos seus leitores, certamente -, sobre o multiculturalismo("o manejo da diferença em nossas sociedades", bem genericamente), que há tempos é assunto mundial, e principalmente um tema europeu - acadêmica e popularmente falando, digamos assim, pois na ordem do dia da cidadania continental -, mas que também interessa a americanos do Norte, do Centro e do Sul, e particularmente aos da Sulamérica, esta onde nós brasileiros nos situamos com os nossos vizinhos e as nossas relações, bi e multilaterais, a cada dia mais amplas e intensas, conforme matéria de capa do mesmo diário que discorre sobre a imigração no país, com chamada nada modesta, embora bem atual e verdadeira para muitos: "O SONHO DE SER BRASILEIRO".

Para apontar e demonstrar jornalísticamente a pretendida "farsa intelectual", em seu texto o eminente colunista do Correio Braziliense foca, inicial e centralizadamente, no "maluco de Oslo", como mundo afora uns tantos passaram a chamar Anders Behring Breivik, o frio assassino local de mais de sete dezenas entre jovens e adultos noruegueses, na grande maioria originários da própria Noruega - o país que anualmente organiza e confere o Prêmio Nobel da Paz ao "ungido da vez" -, embora alguns deles fossem "árabes" ou descendentes.

Mas como acontece no plano da realidade, na coluna de hoje o autêntico democrata e assumidamente judeu Feuerwerker(sim, brasileiro de origem judaica, igualmente a outros admiráveis jornalistas deste país, do nosso tempo e de ontem, como o saudoso Samuel Weiner) os confronta - "árabes" e "ocidentais" -, e dali produz uma argumentação terrível e inescapável, ao afirmar o óbvio a quem não é cego: "A guerra pelo spot de vítima tem uma base lógica, porque o multiculturalismo para todos seria, no limite, completamente disfuncional. Para a sobrevivência de alguma civilização, uns precisariam ter mais direito ao multiculturalismo que outros."

À situação acima vislumbrada, ainda apenas hipotética mas não impossível de ser transformada em tragédia pela história, que sempre arma/nos apronta das suas, Feuerwerker ilustra com uma sequencia de exemplos e cogitações que, não por culpa dele, beiram ao paroxismo, como os seguintes: a)-"No Brasil, por exemplo, tolera-se que índios matem seus filhos portadores de deficiência. É olhado como traço cultural a respeitar. Por que são índios"; b) -"E se olhássemos os atos do maníaco de Oslo pelo ângulo do multiculturalismo? A conclusão seria aterradora. Em vez de simplesmente condenar, estaríamos obrigados a "tentar entender".

No texto, Feuerwerker chega à hipótese do "maníaco de Oslo", dessa última transcrição, após a seguinte cogitação "dos índios que matem[matam] seus filhos portadores de deficiência": "É capaz de o mesmo sujeito uma hora criticar, justamente, os governantes de incapazes de providenciar acessibilidade e outra defender o indígena cuja cultura autoriza matar crianças deficientes." Como outros, mais um paradoxo bem possível em nosso tempo.

Logo no íncio da década passada - no ano 2001, precisamente -, quando ao meu pedido a AGU me destacou, por um período, para atuar junto à Procuradoria da Funai, me deparei com situações como a "dos índios que matem[matam] seus filhos portadores de deficiência", e outras similares. Não cheguei a fazer a defesa de nenhuma aberração moral(sim, e não nos esqueçamos da remota Esparta, na defesa da eugenia para a sua gente e os seus exércitos, ainda paradoxalmente sacralizada, mesmo que de forma submersa, no imaginário coletivo) dessa magnitude - ainda que, como advogados, desafios dessa ordem possam ser postos em nossos horizontes -, embora naquele tempo lá se falasse de monstruosidades similares, que apenas o multiculturalismo poderia tolerar, contemporizar... Isso não foi o que determinou o pedido que apresentei para retornar à Procuradoria da Previdência(INSS), mas foi o que fiz.

Lá se vai quase uma década que estou distanciado das questões indígenas e previdenciárias - agora faço apenas a defesa da "viúva" na área de pessoal, junto à AGU e ao Poder Judiciário da própria(a União, claro, por suas instituições indiretas) -, mas destas ainda guardo minha própria experiência, num só tempo acadêmica e opercional, sobre multiculturalismo, quando, no já relativamente distante ano 2000 terminei por publicar, pela COMEPI - Companhia Editora do Piauí, a obra "Acordos Internacioanis no Âmbito da Seguridade Social"(agora fora do mercado, mas com exemplares nas principais bibliotecas públicas de Brasília; Rio de Janeiro...), livrinho de aproximadamente 200 páginas em que eu, apresentando os acordos do Brasil na área e seguindo um autor do porte do renomado francês Marcel Merle(Socilogia das Relações Internacionais, Editora da UNB), vislumbrei a "questão internacional dos migrantes", que então tinha apenas um forte viés racial, mas hoje também tem o religioso, principalmente na Europa, com uma ostensiva, ou às vezes velada rejeição aos muçulmanos.

Para "O SONHO DE SER BRASILEIRO", que é a matéria de capa da edição de hoje - 31/07/2011 - do "Correio Braziliense", apesar de aqui e ali despontar um ou outro registro de intolerância - burra, cruel e covarde, em qualquer tempo e lugar -, felizmente ainda não temos, e provavelmente não teremos problemas da magnitude que os migrantes se deparam mundo afora, inclusive muitos dos nossos patrícios. E é por isso que as fronteiras do Brasil, em especial com os seus vizinhos, sempre os atraía, hoje mais que ontem, por óbvio e justificável, em busca de uma vida melhor, que é o que geralmente move o migrante.

A questão do multiculturalismo como farsa, que ora é destacada no texto insuspeito, e autêntico em suas idéias, do Alon Feuerwerker(meu contemporâneo no Movimento Estudantil, quando da luta nacional pelo restabelecimento do Estado Democrático de Direito e na Reconstrução da UNE - em especial durante o ano de 1979, na Bahia, embora não nos conheçamos pessoalmente, pois ele estava como líder em São Paulo e eu líder lá no Piauí), no entanto, permanece, e por isso deve ser encaminhada e resolvida logo mais - e que não seja tarde -, de forma inteligente e democrática - o que não é fácil, mas indispensável -, para que a mesma não se transforme em mais uma armadilha da história e de suas tramas, principalmente pelos dois lados agora em confronto e que até aqui já produziram, de parte a parte, tipos como Bin Laden e Anders Breivik.

Nenhum comentário:

Postar um comentário