sábado, 20 de agosto de 2011

Arte x Religião(literalmente, arte versus religião)




A arte e a religião constituem-se em diferentes modos de expressar a consciência e a inconsciência da mente racional - e haveria outra, efetivamente, além desta, seja tangível ou intangível àquelas duas "antagonistas"? - , mas ambas "seriam" quase irmãs gêmeas, por assim dizer, pois praticamente nasceram juntas, ainda durante a longa..., a "eterna noite" dos milhões de anos da pré-história humana. Nesta, desde já anote-se que faltava-lhe a precedência solar, por óbvio, como a Antiguidade Clássica em relação à Idade Média e o seu milênio, ademais de aquela nos impor daqui a consolidada certeza de inexistirem quaisquer perspectivas que não as da barbárie e de sua terrível rotina, numa sensação contínua de algo sombrio e interminável..., ao juízo moderno.

Na "escuridão" barbárica da pré-história, com efeito, a arte e a religião "teriam" nascido como se gêmeas fossem, lá expressando buscas e sensações idênticas às transferidas aos nossos ancestrais civilizados, dos quais as mesmas nos foram transmitidas, contínua ou descontínuamente, pelos mais diversificados, flexíveis ou inflexéis meios que a história registra, isso no decurso de quase cinco mil anos de civilização. Porém, ao menos desde a Renascença, aquela suposta origem comum, embora seguida sempre de comprovada relação ancestral entre a arte e a religião - ao ponto de ambas ainda serem apresentadas, com base numa ou noutra investigação/pesquisa desenvolvida aqui e ali, como "gêmeas" ou "quase-irmãs" -, não impediu que fosse instalada uma incessante exposição reveladora de suas contradições e incompatibiliades, num processo que a cada dia se amplia e se aprofunda.

Com efeito, aos olhos das mais variadas áreas do conhecimento e da informação, digamos assim, há anos e anos a arte e a religião deixaram de ser vistas como "gêmeas", ou "quase-gêmeas", para se distanciarem uma da outra, quando vistas em suas reais perspectivas, ainda que consideradas as origens remotíssimas e comum de ambas, pois legadas à história pela mais longínqua pré-história que se possa visualizar do ser racional que vem produzindo aquela - ou seja, a história. E quanto às suas reais perspectivas, quais seriam aquelas que distanciam arte e religião?

Ora, de forma direta e sem meias palavras, a religião é caminho de fuga da realidade, seja esta através daquela via mais alta que possa haver ou pela mais baixa, mas inescapavelmente na forma de alienação, valendo dizer que a religião se presta "ao conforto espiritual" do sofredor primário e desesperado ou daquele que simplesmente busca transceder, tão-somente, mas por um ou outro modo de caminhar, o trânsito de fuga da realidade, e a sua consequente alienação se perfazem. Ao contrário da religião, a arte é caminho de encontro, de prazer e contemplação da beleza. Eis, portanto e respectivamente, apenas duas de algumas outras perspectivas de ambas que distanciam a arte da religião, desde sempre.

Porém, no "mundo ocidental e cristão", por exemplo - mas não apenas nele, claro -, desde a origem do cristianismo - e mesmo nos seus antecedentes, conforme "as escrituras" - que a arte foi empregada como suporte da religião, e não é preciso ir muito longe para se ilustrar essa verdade, pois ali estavam os cânticos, a poesia, a pintura, a escultura..., todas compondo em maior ou menor grau aquilo que se convencionou chamar de "arte sacra". No entanto, a rigor, isso não era e nunca foi realmente arte, a menos que se queira considerá-la "arte enganjada", tomando-se emprestado a expressão recente, embora já bem decadente, do que houve com a "arte política", de triste memória.

Há de se concluir, portanto, neste brevíssimo e despretensioso ensaio, com a mais pura honestidade e sem maiores ou menores ilusões, que bastam as considerações acima para se vislumbrar hoje - e desde sempre -, que a arte verdadeiramente expressada, de um lado, como de outro a religião - esta posta em seu lugar real e sem disfarces -, embora reconhecidamente originárias da mesma pré-história humana, e talvez simultaneamente, jamais poderiam, ou poderão ser confundidas, pois expressam realidades e perspectivas completamente distintas, e tanto quanto a água e a gasolina, nunca poderiam, ou poderão ser confundidas, eis que são opostas e inconfundíveis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário