sexta-feira, 19 de agosto de 2011
O tubarão e o mar
Láurence Raulino(*)
Quando eu era apenas um filhote,
o destino na noite se perdeu..., se equivocou;
quase cego, e sem ter à mão nem um archote,
não viu..., não enxergou!
Dali, então pensou:
"À minha frente todos são peixinhos."
A verdade, portanto, lhe escapou;
e na escuridão, nos supôs iguais, pois pequeninhos.
No entanto, peixe eu não era; nunca fui.
Não desses postos em pequenos aquários
pois sou um tubarão, e no mar ataco: ui!!!
Mas aqui vivo preso, igualmente aos otários.
Porém, antes de eu morrer;
mas bem longe de partir para o nada...
penso em deixar de sofrer,
e nadar no mar, a minha morada.
Sendo tubarão de água doce e salgada, e sou o de cabeça-chata
viajo pelos maiores rios e no oceano, o grande mar.
Embora nos rios eu seja logo visto, e ali dizem: mata!
Não, amanhã não é para eu morrer, mas para eu nadar.
Neste pequeno aquário onde fui posto
para viver igual a um peixinho, como todos à minha volta
eu não entrego os pontos e aparento gosto...
Mas qualquer dia desses virá a minha revolta.
Quando eu puder fazer e acontecer
partirei daqui voando - vapt, vupt... - , logo ao amanhecer
determinado, e diretamente rumo ao mar
pois embora aqui, não sou um peixinho, e aquele é o meu lar.
Enquanto não chega a hora..., o instante de partir
me ponho incessantemente..., dia e noite a pensar:
por que justo aqui eu tinha que vir?
Sim, se eu não sou deste aquário, mas desde sempre do mar?
No entanto, aqui há muito tempo estou
vivendo bem/mal limitado e mediocrimente
neste pequeno espaço, pois o destino..., errado pensou:
"Ele é apenas um peixinho, fraco e sem mente."
Fosse dia, e não noite, da maior escuridão
quando ao meu encontro veio o tal destino
outra idéia ele teria feito daquele pequenino.
E então lhe teria ocorrido: - Ah, é um tubarão!
Fatídico encontro, aquele maldito
que privou da vida natural, um tubarão
confundido com um peixinho, bem pequenito
e aqui, em desgosto, não vejo a hora de ir pro meu marzão.
Se logo o mar é impossível, mesmo para um tubarão feroz,
como todos os de minha espécie; os de cebeça-chata,
antes de cair no oceano, do aquário pularei e nadarei pelo rio, até à foz,
donde se pode avistar água salgada, a que deu a vida, mas a muitos mata.
O certo é que aqui neste aquário
não tenho dúvida de que não mais poderei ficar,
perdendo o resto da vida, como um otário
quando tenho pleno certeza de que o meu destino é o mar.
(*) - advogado, articulista e escritor.
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